INDAGAÇÕES POÉTICAS


INDAGAÇÕES POÉTICAS
Celso Afonso Lima

NOTA DO AUTOR

Decorrido oito anos após eu ter editado o meu livro anterior de poesia, o POETAR, que reunia os poemas de 1996 até 1999, em que eu registrei ser o meu período mais produtivo poeticamente dos últimos tempos, retorno a esta laboriosa atividade artesanal que é produzir um livro caseiro de um poeta-amador.
Os poemas reunidos no presente livro, intitulado INDAGAÇÕES, coincidem com uma fase da minha vida em que eu me dediquei intensamente ao estudo filosófico, após ter ingressado no curso de filosofia da UFRGS no ano de 2003. Em função das exigências dos estudos e trabalhos acadêmicos, naturalmente que esta foi uma época mais dedicada ao exercício de prosas do que de poesias. Entretanto, apesar da grande produção de textos ocorrida neste período, o único livro que consegui editar foi o “Breves Resenhas de Filosofia & Política” em 2007, permanecendo vários outros materiais em projetos que aguardam disponibilidade de tempo para serem concretizados artesanalmente enquanto livros.
Mas, como sempre tem ocorrido, talvez pelas maiores facilidades de edição e, também, por íntimas necessidades pessoais, a organização em livros dos meus trabalhos poéticos sempre acaba ganhando preferência e furando a fila cronológica de formatação final das minhas amadorísticas criações em geral. Tanto que há textos de décadas atrás que continuam em manuscritos e sequer foram digitados ainda, mas os poemas estão, agora, absolutamente todos devidamente editados em livros.
INDAGAÇÕES, portanto, está repleto de poemas com temáticas e questões filosóficas, além dos aspectos afetivos, emocionais, sociais e os estritamente poéticos do cotidiano. As ilustrações, que enriquecem o valor afetivo deste livro, por serem da minha filha Luíza, são trabalhos também produzidos ao longo deste período que correspondeu ao de sua “velha infância” até o adolescer dos seus quinze anos.
Parafraseando a minha “nota do autor” do livro POETAR: sigo assim viajando nesta onda de poeta-amador, colocando este livro INDAGAÇÕES como um ilhado que joga ao mar uma garrafa com mensagens contendo indagações aos seus amigos e semelhantes.

Porto Alegre, janeiro de 2008.
Celso Afonso Lima

APRESENTAÇÃO DO AUTOR

Celso Afonso Lima, é servidor público municipal de Porto Alegre (DMAE), formado em Engenharia de Minas pela UFRGS, estudou jornalismo e filosofia, atualmente estuda Letras. Escreve poesia desde os treze anos de idade como uma forma auto-didata de terapia de auto-conhecimento e compreensão da humanidade. Na prosa literária se introduziu durante a sua adolescência e, após um longo período envolvido com a temática política, na fase adulta passou a se dedicar ao gênero de crônicas e ensaios literários filosófico-poéticos.
Apesar de não ter nenhum livro publicado, sua obra é bastante ampla e foi cultivada como sendo uma atividade artesanal ao longo de toda a sua vida. O autor se considera um “artesão das letras e palavras” que são agrupados como sendo um “objeto de arte” num livro de fabricação caseira.
Sem maiores pretensões artísticas, considera que todos podemos ser artesãos de versos e textos (ou de outras áreas da arte como a pintura e a música, conforme a aptidão de cada um) para também nos prazerearmos com os êxtases dos momentos de criação em que trazemos à luz algo que sai de dentro de nós, como um filho. Acredita que mais vale parir um poema próprio qualquer do que apenas ler centenas de belos versos dos grandes poetas consagrados.
Com a evolução da máquina de escrever, desde a datilográfica que produzia um único exemplar artesanal da cada livro, com o computador e as modernas impressoras multifuncionais foi possível uma reprodutibilidade fantástica deste livro Indagações, o qual saiu com uma tiragem de 20 exemplares que serão presenteados aos amigos como se fossem os artesanais doces caseiros da vovó.
Uma vez que todo artesão almeja ter uma barraquinha ou uma vitrine para expor os seus produtos, o autor de Indagações está finalmente produzindo este blog na Internet onde possa pendurar, como num grande “cordel virtual”, todas as suas obras artesanais, feito roupas íntimas estendidas num varal ao sol do cyber-espaço, submetidas ao olhar distraído dos internautas que passam à deriva agarrados no leme do mouse de seus computadores.

ÍNDICE DAS INDAGAÇÕES

1999-2003
Caderno de Reservas Poéticas
I até IX – Sem títulos
X - Rodeio do Gorducho
XI – Umbigocentrismo
XII até XIV – Sem títulos
XV - Saudável Saudade
XVI – Sem título
Rap do Corte Tatuado

2004

17 - Celso Pessoa
18 - ARMISTÍCIO
19 - O Jardim Suspenso da Ipiranga
20 - CINQUENTENÁRIO
21 - AS FLORES DE PARIS
22 - Dúvida Filosófica
23 - Corpo & Alma
24 - Metafísica
25 – OCIDENTE

2005
26 - TSUNAMIS
27 - Parabéns para Nós
28 - VELHO FILÓSOFO BABÃO
29 - PAGANISMO
30 - Poeteiro
31 - CAMINHOS
32 - Dúvida Filosófica
33 - Sapato Folgado
34 - MAGNA RAINHA
35 - BRAVA MENINA BAILARINA
36 - Cordel: Cel. Severino versus o Índio das Missões
37 - O AVATAR DA ANTIGUIDADE
38 - Vôo
39 - ALEGORIA
40 - Inquietações Ancoradas
41 - ADULTOS
42 - Tio Nanico
43 - A Droga da Dúvida Universal
44 - As andorinhas exibicionistas
45 - A Matéria Viciada do Ser

2006
46 - Da Filosofia Primeira
47 - A origem do agora
48 - PRÉVIAS LIBERTÁRIAS
49 - ESTRANHA GRAVITAÇÃO MAGNÉTICA
50 - RONRONANDO
51 - SOCRÁTICA DE CALCANHAR
52 - Parreira seca não dá coelho
53 - O ELO ÉTICO DA ESTÉTICA
54 - COMBINAÇÃO INFELIZ
55 - MATRIX DE NOÇÕES TRANSCENDENTAIS
56 - MEDIÇÕES FÍSICAS E METAFÍSICAS
57 - DA NATUREZA DE CADA UM
58 - BIODEGRADAÇÃO
59 - CERIMONIAL DE DEBUTANTES
60 - DO PARTO DE POEMAS

2007
61 - LIMITAÇÕES INEXPLICÁVEIS
62 - CAPACHO VELHO
63 - CINQUENTENÁRIO DA AURORA RUIVA
64 - LUTO TECNOLÓGICO
65 - DOSAGENS DE POESIA
66 - O BRUXO
67 - CIRCULARIDADE
68 - O ETERNO RETORNO
69 - AS PEDRAS E OS GRÃOS
70 - OPÇÕES DEMOCRÁTICAS
71 - DARWINIANO
72 - ENCURRALADO
73 - EU BEIJA FLOR
74 - QUINTAIS QUINTANEIROS

CANTOS DA SAGA PROSTÁTICA

75 - O FAROL E A TRAVESSIA DO CANAL
76 - A BESTA E O APOCALIPSE NOW
77 - DAY AFTER APOCALIPSE
78 - SECOND LIFE HIPER-REAL
79 - A GUERRA DO TERCEIRO DIA
80 - TIRO SECO MISERICORDIOSO
81 - MOINHOS DE VENTO

INDAGAÇÕES I

CADERNO DE RESERVAS POÉTICAS

“Ser poeta é ter-se um ofício como outro qualquer, por isto devemos cuidar de não perdermos nenhum de nossos achados ou descobertas, assim é recomendável a prática de um caderno de anotações destas reservas poéticas, para lançar-se mão na primeira oportunidade. Como serão empregadas não se sabe, mas o certo é que todas acabam sendo utilizadas.”
Maiacovski

I
Não consigo não ser quem sou
como não consigo ser quem não sou
Mas plenamente, com sinceridade
nem quem sou consigo ser
II
Pra começar
nem comecei
pelo começo
Pra terminar
Sim, terminei
pelo começo.
III
Nosso lance é o mesmo
que jogar no Maracanã lotado
com o povo todo alucinado
torcendo pelo nosso prazer...
IV
A idéia de pecado no prazer
que por milenar é lei madura
se aplica até no churrasco
pois a carne macia e gostosa
ou é junto ao osso com tutano
ou é junto a uma manta de gordura
V
Em um estado tal de excitação
com a sensibilidade aguçada
como se estivéssemos em carne-viva
na maravilhosa tortura concebida
entre o amante e a sua amada
VI
dúvidas divididas
são dívidas dissolvidas
devidas em outras vidas
VII
A lua suspensa
está cumprindo suspensão automática
no eterno campeonato
diante do cartão vermelho do sol.
VIII
Quem acha que uma vida é pouco
não me peça companhia nem apoio
pois eu sigo na minha e não me acanho
achando que pra este mundo de loucos
uma vida só está de bom tamanho.
IX
É...
eu ‘tou aqui
eu ‘tou no mundo
eu ‘tou na minha
ou ‘tou por baixo
ou ‘tou por cima
eu ‘tou na rinha.

X - Rodeio do Gorducho
E o piá da Dona Ciça
educado em escola pública
do primário ao superior
comeu do ruim e do pior
de São Diogo à capital
Mas, pelos 40’s passou a galope
com copa e mesa livres
comeu o do bom e o do melhor
mantendo o corpo firme e nos trincos
Porém, antes dos temidos 50`s
repecho divisor dos tempos
sem rédeas o corpo corcoveou
no lançante da coxilha dos 45’s
exigindo perícia de laço e maneias
pra controlar a disparada volumétrica
pela porteira da boca escancarada
faminta de prazeres e vícios
deste domado xirú criado guaxo.

XI - Umbigocentrismo
Sou solitário mas não um ermitão
necessito de apenas uma pessoa em minha ilha
Que seja mulher, mas não uma qualquer
tem que ser uma especial: amante, mãe e filha
uma pessoa completa para substituir todas as outras
Ela tem que ter bom humor, boas pernas e pouca barriga
e muita criatividade para manipular estes ingredientes
Por ela tem que florir poemas em todas as estações
Com ela o nós tem que ser um universo auto-suficiente.

XII
Seca poética...
nuvens descalças caminham
nas praias azuis do infinito
com a mente as espremo como à esponjas
sedento de gotas de poesia
mas delas não extraio nem um grito.
XIII
Sou normal...
Não sou o filho do bem
tampouco o filho do mal
transito nestes extremos
com a boa maldade natural.
XIV
Ter coragem e valentia
não significa ausência de medo
isto seria uma anomalia
pois é para o enfrentamento
ser justo e corajoso
que o medo tem a sua serventia.

XV - Saudável Saudade
Como inserir o elemento saudade
no cotidiano da vida da gente?
Como ficar longe de quem se gosta
quando se está gostando de ficar junto?
Sabemos que, de tanto ficar junto,
o ficar junto deixa de ficar bom
Mas como deixar de ficar junto
antes que o estar junto exija a separação?
Como deixar que a saudade
de não se estar junto promova a junção?
Como equilibrar esta balança
num balanço equilibrado?
Como fazer uma dinâmica
em que a saudade seja saudável para a união?
XVI
Ela, emergindo de um mergulho no mar
Com os cabelos escorridos no rosto
Como duas cachoeiras agrestes...

RAP DO CORTE TATUADO
Tá assim d mano
Q vive d sacanagem
Q pensa q é malandragem
Este viver encurralado
Tá assim d mano
Q vive d malandragem
Q pensa q é sacanagem
Este viver assalariado
Tá assim d mano
Q vive d molecagem
Q pensa q é tatuagem
O corte cicatrizado
Tá assim d mano
Q vive de bandidagem
Q pensa q é vadiagem
A vida do apenado
Tá assim d mano
Q vive só d miragem
Q pensa q é ter coragem
Ser do crime organizado
Tá assim d mano
Q não sabe nada
Tá assim de mano
Q é sabichão
Tá assim d mano
Doido nas paradas
Tá assim d mano
Na contravenção
Tá assim d mano
Sem rap, sem nada
Tá assim d mano
Sem orientação.

nov/2003

INDAGAÇÕES II

2004

Celso Pessoa
Tudo é fácil na vida
Quando a alma não está ferida.

ARMISTÍCIO
Um chopp gelado foi a gota que faltava
para que um conflito bélico fosse anunciado
algo como uma terceira guerra mundial
que, felizmente, submergiu nas praias das nossas costas
(onde tantas outras crises, como minas, jazem desativadas)
com seus possíveis arsenais de armas químicas e nucleares
contidas em explosivos barris renunciados de cerveja.
É mais uma vitória, aparentemente, da nossa diplomacia conjugal.

O Jardim Suspenso da Ipiranga
Alguma coisa acontece no coração da natureza
Quando ela cruza a Ipiranga com a Av. João Pessoa
Por baixo o riacho fétido de esgoto bruto e pluvial
Por cima a ponte suspendendo em seus canteiros de concreto
As oito palmeiras suspensas da minha Babilônia
Exibindo o fruto instável do desequilíbrio ecológico
Pra quem tiver olhos e coração para ver o milagre
Das garças brancas atravessando como nuvens solitárias
Por entre o jardim suspenso das palmeiras californianas
No cruzamento destas duas avenidas de Porto Alegre
Indiferentes à indiferença antiecológica dos portoalegrenses
Com suas descargas poluentes de esgoto, gasolina e óleo diesel.

CINQUENTENÁRIO
Não sou poeta o suficiente
pra dizer que chego aos cinqüenta
com os problemas sequer colocados
Mas de resolvido mesmo
só tenho esta consciência realística
a caro custo adquirida
de que sou do tamanho que sou
que posso sempre crescer, mas não muito
e, principalmente, que este é um bom tamanho
que me realiza, não todo, mas o bastante
pois permite o meu movimento moto-contínuo
de sempre perseguir novos e maiores prazeres
de sempre retirar das pequenas alegrias a energia
para sempre ter a energia de construir no dia-a-dia
possibilidades embriãs de momentos felizes
nem sempre realizados, mas sempre possíveis
E assim manter sempre o encantamento pela existência...

Mas pelo pouco de poeta que tenho
aproveito para, pelo menos, colocar o problema
de que eu não tinha muitas pessoas a quem convidar
para a festa do meu cinqüentenário.
No fundo continuei sendo a mesma alma solitária,
agora com meio século de consciência desta realidade...

But, in the after day,
no primeiro dia do resto da minha vida,
ultrapassada a muralha que divide a existência
em duas metades geralmente desiguais
a visibilidade da finitude do horizonte cinqüentão
tornou-se estarrecedoramente convincente:
Haja filosofia para iluminar a chama de vida
No túnel do seu derradeiro sopro!

AS FLORES DE PARIS
Agora eu já sei
Das flores que nascem do mal
Foi Baudelaire
Que teve que me explicar
Que é do mal
Que nasce o bem, amor.
Agora eu já sei
Que também é do bem
Que nasce o mal, amor
No jardim
Do Inferno de Rimbaud.

Dúvida Filosófica
Minha poética é espiritualista
E a minha prosa é materialista
Penso que sou um existencialista
Que é racionalisticamente empirista
Mas, porém, tenho sérias dúvidas.

Corpo & Alma
Este viver físico, sucessivo
Com um dia após o outro
Contínuo, sem intervalos
Sem uma folga para repousar
Sem podermos tirar férias desta vida
É que nos faz um potencial suicida.
Mas como tudo está determinado
nos insondáveis desígnios do Criador
Fica aqui a minha modesta sugestão
Para que no próximo dia do juízo final
Este modelo de existência sofra uma remodelação
Tal que possibilite o trânsito entre o físico e o espiritual
Logicamente que com pedágios de carga horária mínima
Para garantir que o mundo físico tenha continuação
E não haja uma debandada geral para o outro astral.

Metafísica
Sei que eu sou eu
Pelo corpo que tenho
Mas sei que o eu que sou
Não é o meu corpo...
O que é o meu eu?
Sei que eu sou eu
Pelo o que eu penso
Pois se penso, eu existo
Mas qual é o meu reino
Animal e/ou espiritual?
Que rei sou eu?

OCIDENTE
Ao Wittgenstein
Quando Aristóteles inventou o mundo
À grega, sob orientação platônica
E inspiração socrática
O Ocidente foi expulso do paraíso
Da contemplação silenciosa do hoje
Do eterno presente
E passou a buscar o sentido da vida
(Aquilo que se mostra e não pode ser dito)
Dentro dos limites da linguagem lógica.
Como se deve calar sobre o que não se pode falar
Toda a filosofia resultou em contra-sensos.
31/12/04

INDAGAÇÕES III

2005 (primeiro semestre)
TSUNAMIS
Tsunamis na Ásia
(Com as águas engolindo os turistas europeus)
The big wave de terror na Mesopotâmia
(Com o Novo Mundo aniquilando o seu próprio berço)
E uma onda gigante no meu peito
(Com uma big pedra no meio da caminho, na vesícula)
Morte de dezenas de centenas de milhares
Pela natureza e pela guerra de terrorismo oriente-ocidente
E morte de uma unidade pelo sentimentalismo
Nos maremotos tectônicos do meu coração.

Parabéns para Nós
De Ruiva Aurora, da paixão ardente
Que rompeu iluminando os meus dias
Energizando de sentido as coisas simples da vida
E alegrando o ser e estar no aqui e agora...
De tábua de salvação, na qual me agarrei
Para emergir do tédio e da náusea poética
Pretendendo sobreviver à deriva de álibis forjados
Agarrado à realidade excitante do teu corpo...
De bolha da paixão, onde nos ilhamos do mundo
E tememos sair da praia com o nosso amor
Ao vermos tantos afundarem no mar...e haja mar...
De sereia, em cujo canto me encantei
Com medo que fosses uma baleia enfeitiçada...
De rubra Vênus sobre o meu Marte moreno
Levitando como estrela na mágica vara de condão
Trilhamos o caminho da sábia cura kármica
De urubuservadores, nos momentos mais difíceis
Não viramos a mesa nem devolvemos as chaves
Guiados pelo fresquinho macio do tesão que nos une
Fizemos infindáveis ensaios prazerosos de despedidas
De dramas, da dor presumida de uma gaiola vazia
De crises, de rituais de um amor cego vivendo de orgasmos
Oh! Luz da Aurora Ruiva que rompeu!
Que dá sentido a tudo o que se viveu, vive e viverá.
De ciclo em ciclo vamos serenando o nosso amor.

VELHO FILÓSOFO BABÃO
Descobri, sem calma, na própria carne
A prova da imortalidade da alma
E que o espírito cresce, mas não envelhece
De repente eis-me materialmente envelhecido
Meio século de desgastes físicos sofridos
Caracterizam minha figura conforme a idade
Devido às deformações erosivas da temporalidade
Sobre as coisas contingentes e finitas
Mas a prova em que especulo e me agito
Que me dá consciência de que sou espírito
São as pernas em mini-saias e os seios imponentes
São as bundas e rostos das bem dotadas adolescentes
Aflito percebo que por dentro sou o mesmo de sempre
E que o tempo não erodiu a minha atração pela beleza
Apenas me deu esperteza para compreender a situação
Que, no fundo, a in-temporalidade do aflito espírito
Transformou-me em mais um abominável velho babão
Apenas menos patético, pois com uma filosófica explicação metafísica.

PAGANISMO
Conforme a filosofia pré-socrática
De vários séculos antes de Cristo
Tudo está em movimento
Nada é, dizia Heráclito
Tudo está em permanente processo
De vir a ser
Eu, você, a natureza e o universo
Somos simultâneas fases heterogêneas
Do fluxo da existência
Que toma consciência de que está vindo a ser
(sabe-se lá o quê e quais são os nossos desígnios)
E nos percebemos como o espírito do fenômeno todo
Como parte do todo, do material e do imaterial
Como parte do uno...de Deus?
Mas como é cristã esta filosofia pagã!
(Ou será o contrário?!?)

Poeteiro
Não é que eu seja um convencido
Mas relendo meu último livro de poemas
Entrei pro rol dos meus poetas preferidos

CAMINHOS
Dei o primeiro passo
Na inexorável caminhada
Pelas trilhas que levam dos 50s
Aos 60s anos de idade
À ilha misteriosa da terceiridade
(base-aérea do vôo definitivo para a eternidade).
Por isso 51 é uma boa idéia:
Se festejar com pinga de caninha
E aproveitar o caminho, passo a passo
Prestando atenção, cada vez mais
Com quem e para que se caminha.

Sapato Folgado
Hoje eu sinto que a alma
(O espírito que vive dentro de mim)
Está mais confortável
Se sente menos comprimida
Parece habitar uma casa mais espaçosa
Embora seja a mesma estrutura corpórea
(Em que pese o externo aumento de volume)
Está como que num sapato que foi apertado
Mas que com o tempo deu de si e ficou folgado.
30/05/05

INDAGAÇÕES IV



MAGNA RAINHA

Ao pé da letra
Magna Rainha
É marca registrada:
“Magda Regina”
Ao pé da letra
Em tradução bem soletrada
É marca registrada
Magna Regina:
Magda Rainha..
18/07/05

BRAVA MENINA BAILARINA

Menina Marlúcia do Amaral
Bailarina da pura emoção
Partiu do pampa gaúcho
Do extremo-sul da civilização
E foi construir seus sonhos
Pelos cobiçados palcos do mundo
Saltitando graciosa sobre as fronteiras
Da língua e dos costumes das nações

Menina Marlúcia, quando danças
Faz dançar junto nossos corações
E nos enche o peito de esperanças
Que haja um jeito poético de se viver
Que a filosofia que a arte na alma lança
Semeia o belo para o justo e a paz florescer

Em pé aplaudimos: Menina Marlúcia, bravo!
(Recebas estes versos sinceros
Como um buquê de flores silvestres
Colhidas de São Diogo à Porto Alegre
Que expressa a nossa admiração por você)
Brava Bailarina Marlúcia, Bravo!!
21/07/05

Cordel: Cel. Severino versus o Índio das Missões

Ao Luciano Lima
Esta doeu Presidente, esta doeu
Doeu mais que as expulsões
Que me expurgaram do PT
Pois podia ser que eu não estivesse entendo
O que é o governo e o ter as rédeas do poder

Esta doeu Presidente, esta doeu
Doeu como um tiro fatal
No sonho autêntico de um milagre brasileiro
Vindo das ruas, campos, fábricas e escolas
Como uma democrática revolução popular

Esta doeu Presidente, esta doeu
Doeu mais que o “mensalão” e as malas de dinheiro
Do Zé Dirceu, do Genuíno, do Delúbio ou do Silvio
Esta doeu, doeu bem mais
Esta doeu, ver o próprio Presidente executar
Como um jagunço o seu “irmão” e ministro Olívio Dutra
(Que era o que restava do sonho que a gente sonhara)
E o que mais doeu
É que foi a mando de um Coronel Severino
Então, nada mudou
Definitivamente o sonho acabou.
23/07/05

O AVATAR DA ANTIGUIDADE

Ainda hoje ecoa forte e nítida
A voz daquele homem iluminado
Que viveu nos primórdios da Antigüidade
Levando seus questionamentos morais
Entre o povo humilde pelas praças e ruas
E também entre os poderosos em seus palácios
Sobre o bem e o mal, as virtudes e as injustiças
Por isto este homem sábio foi aprisionado
E, para desespero de seus discípulos,
Fez de sua defesa uma denúncia contra o sistema
E foi morto pelo Estado por defender a sua causa
A de parteiro do novo tempo de fé na razão
Defendendo até o fim a sua filosofia de vida.

Sem ter deixado nenhum pergaminho escrito
Sua obra foi a sua vida em busca da verdade
Seus seguidores se espalharam pelo mundo
Erguendo instituições de estudos de sua doutrina
Fazendo com que seus ensinamentos fossem os pilares
Sobre os quais se construiu a civilização romana cristã...
Jesus? Não. Alguns séculos antes do cristianismo na Grécia
Houve um filósofo que lhe abriu o caminho sem profetizar
Trilhando por outras revelações uma história semelhante:
Falo de Sócrates, o avatar da antiguidade para a nova era.
29/08/05

Vôo
Querida o tempo voa
Como voa o passarinho
Porém voa bem mais o nosso amor
Quando estamos os dois no ninho
Cheios de amor e aos carinhos.
30/08/05

ALEGORIA

Tocado pela emoção nativa
Que nos cativa a Semana Farroupilha
Como um bom gaúcho guapo
Admirador dos farrapos e suas tropilhas
Vou cantar o cavalo dos revolucionários
Que povoa nosso imaginário de guris urbanos
Como ideologia de nossos planos de futuro

Montado neste animal não há apuros
Que derrube o bagual gaudério nos pampas
Nem há guampas que o detenha, e nem cercas ou muros

O cavalo, este xucro animal místico
Tem quatro patas apenas
Não é alado, mas parece que voa
Com duas patas longas na frente
E as outras duas patas fortes atrás
Impulsionadas por um corpo valente
Fez a história do patrão ao capataz

Agarrado nas crinas do seu pescoço
Irmanados bicho e gente: se fez o índio
Civilizado, do charque do índio se fez o gaúcho
Industrializado, da erva guarani o chimarrão criolo
Midiado, assistimos os desfiles dos CTG’s nas TV’s
Com carros de boi e cavaleiros alegóricos pilchados
No asfalto de uma avenida da capital do Estado.
20/09/20005

Inquietações Ancoradas

As grandes inquietações humanas
Não são existenciais, de ser ou não ser
A vida é nos dado concretamente
E nela nos ancoramos como num cais
Mas do estreito abismo infinito
Que há entre o corpo e a mente
Emerge o tal espírito, fluído num grito
Que nos inquieta eternamente
Sem origem ou destino e estarrecidos
Ficamos sem saber se emerge, vem e volta
Ou se são apenas aflições intelectuais
Que a morte corta a corda e nos solta
Na sartreana jangada existencialista: no nada.
28/09/05

ADULTOS
Ao meu filho André

Vocês idealizam demais
Não basta que seja bom
Tem que ser arrebatador
Como nas telas dos filmes e novelas
Como nas páginas literárias dos romances
Como nos versos das canções de amor
Tem que conter os sinais da predestinação

Vocês adultos idealizam demais
Disse-me o meu filho adolescente
Com uma natural e convincente razão.
12/10/05

Tio Nanico

Desgarrou-se um nativo da querência
(Nos confins fora dos mapas oficiais)
Dos fronteiriços campos de São Diogo
Para a estrelada estância do infinito

Devido à convivência próxima de céus e campos
Troteando mudou de existência o Tio Nanico
Como quem rompeu o horizonte da campanha
Onde do verde para o azul a distância é um risco

Doravante há um vazio que a gente sente na perda
Dos vínculos umbilicais com as nossas origens ancestrais
Que aquele pequeno pedaço de terra do planeta encerra
O qual o Tio Nanico prezava e com muito gosto nos ofertava.
13/10/05

A Droga da Dúvida Universal

O ciúmes é um fluído alucinógeno e ácido
Que se infiltra nas trincas que o tempo erode
Fazendo doer a desconfiança dentro do peito
E disseminando a confusão quando na mente eclode

A pessoa com visões faz tudo desabar por nada
Pela dúvida universal de ser ou não ser amada.
14/10/05

As andorinhas exibicionistas

“Andorinha,a seta bailarina”-T. S. Eliot

Já tentei de todas as formas e expressões
Registrar o meu fascínio pelas andorinhas
Que na minha janela exibem suas aptidões
A cada primavera que calorosamente o verão prenuncia

Aparentemente é um casal, um par evolutivo
Mas talvez sejam sucessivas gerações de andorinhas
Que retornam à mesma morada (de modo furtivo)
Feita na caixa externa da uma persiana vizinha

Em fotografias consegui apenas às captar pousadas
Em vôos, nas filmagens, não as consigo acompanhar
Tal a velocidade das peripécias de extrema perícia
Com que se deslocam incansavelmente sem parar

A mensagem que sempre me deixam é de alegria
Que voam porque gostam, como quem brinca de viver
Com esta aptidão, encantado eu também feliz viveria
Mas só me resta capturar o fascínio do vôo no meu escrever
E aprisioná-lo para sempre nas grades das linhas dos versos.
16/11/05

A Matéria Viciada do Ser

“O Ser é o sujeito último de predicação.” – Aristóteles (Metafísica)

Somos a substância de predicação lógica do vício
Matéria que cria dependências tanto químicas
Quanto físicas, místicas e inclusive psicológicas
Corpos atraídos pela queda livre no abismo das drogas
Não só da cocaína e álcool, da nicotina e anfetaminas
Mas também pela droga da beleza física dos corpos
Com suas atrações sexuais e instintos de caça em voga
E mais ainda pelas alienantes drogas místicas de ofícios
Feitas de seitas e rituais com revelações do além
Além, é claro, do somatório de todos estes vícios
Que instituem a deficiência imunológica dos corpos
E nos fazem desejantes dos nossos vícios psicológicos
Nos fazem dependentes do poderoso vício do poder:
Todos queremos poder todos os vícios de prazer!
26/11/05

INDAGAÇÕES V



Da Filosofia Primeira

Comentário ao filme “Amor além da Vida”

É quando a desgraça se abate intensa
E destrói todas as fortalezas
Dos egos e posições sociais
Que se mostra do ser a essência
E se coloca a questão da filosofia necessária
Para responder o que, como, porque e para que somos
Se é verdade que somos o que pensamos ser
Ou que pelo menos indague racionalmente
Se é possível haver uma tal verdade absoluta
E que justifique com uma ciência metafísica
O inerente misticismo e a conflitante religiosidade humana.
15/01/2006

A origem do agora

O caminho se constrói é caminhando
É passo a passo que se faz cada caminho
O caminho nunca é pronto nos dado
Para quiçá incluirmos nele o sonho acordado.

O caminho é o viver do agora
O agora que será o antes
E que já foi o depois de agora:
O tempo é o caminho feito de “agoras”.
(O presente é infinitesimal entre o antes e o depois)

A dúvida é saber se é o passo anterior
Que determina o passo seguinte
(Se é o passado que determina o presente)
Ou se é o passo seguinte a razão final
(Se o presente está determinado por um destino)
Ou se é o livre arbítrio da escolha de cada passo
(individual, tribal, nacional, continental e global)
Que determina que assim caminhe a humanidade?
03/02/06


PRÉVIAS LIBERTÁRIAS

Neste verão de 2006, de extraordinário
Tomei uma garrafa de conhaque Domecq
Em acompanhamento às cigarrilhas Talvis
Salguei o saco no norte da ilha de Floripa
Mas, sobretudo, gozei trinta dias de férias
E o maior tempo fiquei em casa, comigo mesmo
Relendo e organizando meus textos jornalísticos
E lendo muito especialmente Borges em espanhol
(Artifícios, El Aleph, El Hacedor e El informe de Brodie)

De saldo concluo que estou pronto para me aposentar
Estou preparado para do relógio-ponto me libertar.
01/03/06

ESTRANHA GRAVITAÇÃO MAGNÉTICA

O amor é um magnetismo
Que mantém orientado
Os pólos que se atraem
E os imuniza de atrações externas

Mas quando no imã do magneto há redução
Passa a haver dispersões no foco de atração
As forças externas desorientam os pólos a seu favor
Despertando novas atrações, até torná-los contrários
Dispersando-os na procura do magnetismo de outro amor

Não confundir esta força com a gravitação universal
Que relaciona aumento de massa com intensidade de atração
Que quanto mais inertes e pesados mais os corpos ficam juntos
Sem o magnetismo do amor, por mera estabilidade e rotina emocional.

Que força estranha é o amor... e frágil
Capaz de surgir do nada e sumir em tudo, às pressas
Que força poderosa é o amor... e ágil
Capaz de mover e travar a vida de todos, às avessas.
05/06/06

RONRONANDO

Como um gato
conseguirei
Um dia
cuspir fora
De pelo
esta imensa bola
Que engoli
fio por fio e fiei
Em ofícios
de ganhar o pão
Que me engasga
e animaliza a emoção.
20/06/06

SOCRÁTICA DE CALCANHAR

Eu sei que sei
Tudo o que sei
Como também sei
Que não sei
Tudo o que não sei
Todavia, eu só não sei
O que é que não sei
Pois se soubesse
Eu saberia tudo
O que sei
E o que não sei
Então eu seria um Sócrates
(Mas jamais um Pelé, digo, um Platão.)
22/06/06

Parreira seca

O quadrado mágico encantado
Entalou na cartola do Parreira
E o encanto “zidanou-se” à francesa
No show do velho Zidane dependurando a chuteira

O brilho do gaúcho melhor do mundo amarelou
A revelação tão esperada do Kaká foi de Kakadas
O gordo Ronaldo parecendo mais a sua imitação pelo Bussunda
Conseguiu a sua taça pessoal de fenômeno: maior goleador das copas

Enquanto o imperador Adriano procurava às tontas o seu império
E o vovô Cafu batia recordes de longevidade no mundial
Roberto Carlos arrumava as meias e o Dida tomava o gol fatal...

Prevaleceu a apatia e a mesmice do técnico à beira do gramado
Que com um time de estrelas milionárias decepcionou
Não por perder, mas pelo time não se empenhar em vencer
Por não vibrar e se arrastar com monotonia de desinteressado
Por ter jovens ascendentes reservas e velhos decadentes titulares
Desta Parreira não saiu uvas nem coelhos, é um pé que secou!

A equipe mais favorita de todos os tempos
(Mais até que a do Zico, Sócrates e Falcão com o Telê)
Estava se achando o máximo, de salto alto nos flashes
Mas o time dos sonhos virou um pesadelo pra quem vê
E queria torcer para vencer até na marra ou perder com garra
Sacaneou, antecipando a volta à vida real, nua e crua, sem magias.
02/07/06

O ELO ÉTICO DA ESTÉTICA

Já não diria que “as feias que me perdoem,
mas a beleza é fundamental”
Apesar de já ter falado
(E as feministas que não se zanguem)
que a feminilidade é o elo essencial.

Mas hoje eu já estou pensando diferente
O belo em cada idade tem a sua estratégia
Pois a estética também tem a sua ética
Pra distinguir da vaidade o falso e o vulgar

É o tempo lapidando o improvável
E liberando a filosófica energia vital
Que é a beleza do olhar e do sorriso
Que é a alegria na expressão corporal
Que é a vibração de um encontro tão preciso
De dois corpos num mesmo tempo e local
Realizando o amor, o elo do valor ético da estética
Revelador da intrínseca beleza poética
De qualquer ser objeto de admiração filosofal.
29/07/06

COMBINAÇÃO INFELIZ

Porque a noite é escura?
Ora, dirias, pela ausência do sol nas proximidades!
Mas se há infinitas estrelas
propagando luz por todo o universo
a noite não deveria ser infinitamente clara
uma vez que as distâncias não cansam a luz?

Assim, analogamente, porque há solidão?
Ora, dirias, pela ausência de alguém ao alcance da mão!
Mas se há bilhões de “alguéns” no mundo
propagando suas presenças e proximidades
os indivíduos não deveriam se sentir partículas da multidão
uma vez que até colidem pela pouca distância entre eles?

Só sei que há solidão e há noite escura:
Combinação infeliz que cansa a luz humana.
21/10/06

MATRIX DE NOÇÕES TRANSCENDENTAIS

A noção materialista de infinito
Gerou as idéias metafísicas da razão:
As figuras de Deus, alma e imortalidade
Em função da aparência de que tudo tenha uma causa
Ou seja, pelo princípio lógico da causalidade

A noção idealista do conhecimento, porém
Nos mostra que tudo são meros fenômenos
Que nem é certo que as coisas de fato existam
Conforme as percebemos pelos nossos sentidos
As coisas em si nos são inacessíveis além do percebido
Como as noções de física quântica sentenciam
Mostrando que a matéria é feita apenas de vazios

As noções de espaço e tempo são do nosso entendimento
Não estão no mundo nem nas coisas em cada momento
São os nossos softwares decodificadores da realidade
Que vão scaneando e convertendo-a para a linguagem racional
Com cujos dados reproduzimos no cérebro numa imagem virtual
Uma realidade conceitual em que vivemos ocupados atrás de grana
Sem noção, mas numa transcendental Matrix kantiana.
04/11/06

MEDIÇÕES FÍSICAS E METAFÍSICAS

Na festa do 19º aniversário do meu filho
Minha mulher, de 1,58m, acrescentou nova medição
Nos registros escritos com lápis na porta da casa
Quando se constatou na nivelação o anúncio trágico
A descoberta do tamanho físico definitivo de cada um
Nem o guri, de 1,73 m, havia apresentado crescimento
E nem a guria, de 1,63m, às vésperas dos seus 15 anos
Havia superado a sua marca do ano passado riscada na porta
Apenas a guria menor, a baixinha de 12 anos de idade
Cresceu de 1,28m para 1,50m com espantosa velocidade
Passando a ameaçar as marcas paralisadas dos irmãos
Pois somente ela ainda tem o tempo a ser favor
Neste aspecto de futuras medições registradas na porta da rua....

Enquanto filmava a cena das medições neste poema
Do fundo da minha infância, como um verso avulso
Subiu uma legenda indagadora que nunca se apagou:
“Que tamanho terei na vida, o quanto vou conseguir crescer?”
E que continua sem resposta, a esta altura dos acontecimentos
Apesar dos meus 1,70m fixados desde o alistamento militar
A conclusão que deixo aos meus filhos como um recado para os orientar:
Viver é descobrir sempre novas formas de se dimensionar e se tornar maior.
10/11/06

DA NATUREZA DE CADA UM

A andorinha voa porque gosta
ou por ser atleta de longa distância migratória
que tem que estar sempre se exercitando
em vôos e manobras em torno do seu ninho
ou, ainda, será por puro exibicionismo
que faz shows de performances com fins eróticos?
13/11/06

BIODEGRADAÇÃO

Deu no Jornal Nacional com filmagem do local
Que foi preso um contrabandista internacional
Portando dentro de um livro uma planta vegetal
O que é crime de biopirataria no amazônico matagal
Que é combatido heroicamente pela brava polícia federal...

Mas, enquanto isto, caminhões e navios de madeira
Escoam clandestinamente a Amazônia brasileira
E os povos da mata, de bobeira, tiram leite do pau da seringueira...
14/11/06

CERIMONIAL DE DEBUTANTES

Abri as portas da minha casa loteada
Com o sótão tomado pelos morcegos defecadores
E o restante destinado aos humanos, não voadores
Para festejamos os 15 anos da minha filha maior

(Em meio às recuperações e exames escolares
Dando graças à esperteza da estratégia adotada
De termos antecipado a comemoração tribal à oficial
Propiciando-lhe um debu de inverno na neve de Bariloche)

Reunindo os familiares em ritual de evento protocolar
Em torno de um bolo de chocolate com morango
Para aplaudir, filmar e fotografar o soprar da vela
Registrando o findar simbólico do ciclo da pureza de donzela...

Ciclo que se reinicia no debutante cerimonial de apresentação
Da neta do meu falecido irmão, o que debutou para o além desta vida...

A vida é Bárbara:
É eu debutando como vovô do sobrinho das minhas filhas!
14/12/06

DO PARTO DE POEMAS
À minha filha Luíza, no auge de seus poéticos 15 anos.

Como nasce um poema?
Posso responder por longa experiência própria
A fecundação de um poema se dá por insights
A partir de flashes de fatos e emoções vividas
Ou de pensamentos que brotam inesperadamente

Sua gestação tem duração muito variada
Pode nascer pronto, sem ser prematuro
Assim como pode ser anunciado por contrações
Que ocorrem na geração de uma idéia ou verso
Ou, ainda, de vários versos de uma só vez
Indicando, como água de placenta, a hora de dar a luz

Este é o momento criativo do conceber da concepção
Que é uma tempestade cerebral que se alastra
No sistema nervoso por todo o corpo
Energizando o poeta para o serviço de parto
Provocando associações de palavras, idéias e emoções
Num turbilhão de lembranças, sonhos e frustrações
Permeado de ideais, mitos e valores culturais
Que são processados aos milhões instantaneamente
De modo a inspirar a concepção do poema

Mesmo o verso mais singelo
Exige toda esta mobilização orgânica
Do criador criando a criatura
A partir de suas entranhas, feito num cordão umbilical
Numa relação simultânea de paternidade maternal

O mais das vezes, especialmente na maturidade
O ciclo da concepção se estende além da inspiração
Deixando-se o projeto em maturação na estufa da maternidade
Como um embrião fecundado numa proveta de ensaio
Até que o poema cumpra as suas metamorfoses naturais
E assuma a sua forma fetal definitiva, independente da inicial
Num processo em que o poeta é um mero parteiro

Incorporado pelas forças poderosas da criação
O poeta vai lapidando o diamante do poema...
Com lupa e pinça harmoniza as peças da composição
Aparando as arestas das palavras no ritmo das estrofes

Mas há também falsos alarmes poéticos
Em que nenhuma cesária consegue extrair o poema.

E, após o parto, igualmente fica aquela sensação de vazio
Da parte espiritual de nós, materializada em versos
Que passa a ter uma existência própria no mundo

Como nasce um poema?
Só parindo um para saber.
É um prazer viciante pela vida a fora
(Comecei ao 13 anos e ainda entro em transe, como agora)
É uma terapia que faz crescer a auto-compreensão do autor
Mas, mais do que tudo, o solitário processo de poetar
É descobrir a beleza das coisas na vida comum de cada um
É registrarmos o poético que é a consciência de estarmos vivos
Em suma, é viver a poesia do que se faz
E é fazer poesia do que se vive.
É indagar vivendo as indagações.
16/12/06

INDAGAÇÕES VI




LIMITAÇÕES INEXPLICÁVEIS

Eu vou fazendo o que posso, filho
E o que não posso, não faço
Pois se o fizesse, eu o poderia
E como eu disse, filho
O que posso eu faço
E o que não faço, filho
É por que não posso.
03/01/07

CAPACHO VELHO

Como um peludo tapete branco
De pele de urso com cabeça
Estendido sob os pés do poder perverso
Do capitalismo politicamente incorreto
Que faz riquezas cavando buracos
Na camada de ozônio do planeta
Fico escutando as conversações e acordos
Das cúpulas das poderosas nações desunidas
Sobre a proteção da natureza
Do meio ambiente e da pobreza
Sob a névoa da fumaça dos charutos transgênicos
Expelidas das chaminés poluentes de suas narinas...

Imobilizado, não consigo puxar-lhes o tapete
Nem um abraço de urso, nem um urro forte
Nada mais tenho para os ameaçar
Sou mais um velho capacho, sem esperança
De fazer ou ver o mundo melhorar.
07/01/2007

CINQUENTENÁRIO DA AURORA RUIVA

Já quase um terço do teu caminho, Magda
Temos trilhados juntos a estrada
Mantendo sempre a intensidade nas atitudes
De nossas indomáveis personalidades fortes
E, sobretudo, cultivando o amor e o carinho
E a admiração mútua à pessoa amada

Chegas ao meio século com a virtude
Da autenticidade dos propósitos do seu norte
Segundo os quais me oriento, como seu consorte
Ou seja, como quem teve a grande sorte
De encontrar, numa Ruiva Aurora, a alma gêmea procurada
Que valoriza o amor, a felicidade e os seus
Que se orienta pelos astros para entender Deus
E que faz desta vida semeadura da próxima
Por entender que esta é colheita das vidas passadas

Que seria do meu espírito filosoficamente clássico
Sem a tua alma esotérica?
Que seria do meu lunático espírito poético
Sem a memória prodigiosa do seu senso prático?
Que seria do meu espírito calado
Sem o teu falante kit de multimídia sempre ligado?
Que seria de mim sem você?...

Parabéns a você, amor meu
E muito e muitos anos de felicidade
Partilhados neste caminho meu e teu
Deus queira, até a última idade, deixando rastros
Como deve estar, desde sempre, escrito nos astros.
07/01/2007

LUTO TECNOLÓGICO

Ninguém compreendeu a minha dor
Quando, após anos sem uso, constatei
Com grande pesar que o meu Hioki-AF105
Não dava mais sinais de vida, de tensão
Nem de corrente, mal e mal indicava continuidade
Uma tênue resistência elétrica em sinal de despedida.

Com este antigo companheiro de ofício, desde a escola técnica
Por mais de três décadas realizei minhas investigações científicas
Efetuando medições das grandezas físicas em dispositivos modernos
Tais como válvulas, transistores, tiristores e circuitos integrados
Na minha busca de compreender como o mundo funcionava...

Na última década enveredei para a investigação filosófica
E eventualmente só media tensão de eliminador de pilhas
De tal maneira que ficou-me um complexo de culpa
Por poder se tratar de morte provocada por abandono de cuidados
(Quem sabe o suicídio de uma inteligência artificial?)
A do meu velho e bom aparelho de multiteste de medições elétricas.
18/03/2007

DOSAGENS DE POESIA

Uma das minhas doses diária de poesia
É aplicada na cama, antes de dormir
Direto na veia, para eu entrar em estado de sonho
Querendo desacordar logo para no sono fugir
A minha outra dose diária de poesia
A consumo de manhã cedo em jejum na cama
Antes de comer uma banana com copo dágua
E de alongar-me numa ginástica antes do banho
Esta minha dose diária de poesia
É antes de alimentar os cães e os gatos
Antes até de alimentar-me com café com leite, pão e margarina
E principalmente antes de intoxicar-me com as notícias do jornal
A minha dosagem diária de poesia
É parte de longos tratamentos homeopáticos
De duas em duas páginas, que é para virar a folha
De um volume de obra completa de um poeta prescrito
A minha dosagem diária de poesia
No ano passado foi o Ferreira Gullar, neste é o Mário Quintana
Para o ano que vem já estou me receitando Fernando Pessoa
Se encontrar a medicação na dosagem certa na próxima Feira do Livro.
29/03/07

O BRUXO

Sexta-feira 13...
Abril...
Meia-noite...
Medo...
Lua cheia...de mim
Há 53 anos minguando
Neste feitiço da longevidade
Rumo ao eclipse total.
13/04/07

CIRCULARIDADE

As notícias dão conta
Que o mundo continua girando
Redondamente enganado
Pelas notícias sem conta
11/07/07

O ETERNO RETORNO

Não desfaça tanto da rotina
Pois deve também ser importante
O repouso em uma rotina domesticada
Para aliviar o cansaço da criatividade
De quem sem rotina lapida cada dia
E faz do seu dia uma inovadora obra de arte
Ao qual pudesse querer retornar eternamente
E reviver infinitas vezes a perfeição de cada dia seu
Rotineiramente em grande estilo, sem ressentimentos
Aceitando a inocência do futuro como um “amor fati”
Que valoriza a vida como única no aqui e agora
Conforme loucamente preconizava Nietzsche
Com o seu martelo de destruir ideais transcendentais.
30/07/2007


AS PEDRAS E OS GRÃOS

(Inspirado na penúltima cena do filme “Eles não usam blacktie”)

Meditar não é refletir
É o seu contrário
Refletir é pensar profundamente em algo
Meditar é profundamente não pensar em nada

Refletir é como escolher feijão
Separar o que é pedra do que é grão
Descartando junto os grãos petrificados
Pra evitar quebras de dentes na mastigação
Preocupado com os riscos e com tantos cuidados
Refletir é como nem saborear a mera alimentação

Meditar é como comer feijão
Degustando a textura, o cheiro e o sabor
Sentindo o sistema digestivo dissecar cada grão
E absorver em êxtase e fervor a energia liberada na digestão
De olhos fechados e arriscando quebrar os dentes
Com as pedras que não foram detectadas pela reflexão

Na vida, porém, precisamos de todos os opostos
Pois somos feitos de alegrias e tristezas
Pesos contrários de uma balança de equilíbrio
Que depende tanto de nossas meditações reflexivas
Quanto de nossas reflexões meditativas
Por menos impurezas que haja no feijão
E por mais saboroso e nutritivo que seja o grão.
02/09/2007

OPÇÕES DEMOCRÁTICAS

Depois do “roubo, mas faço” do Maluf
(E tantos outros adeptos das malufices na moita)
Só nos resta o “nada faço, mas não roubo”
Dos tantos que inspiram confiança tipo Simon e Paim
Para escaparmos do baixo clero aos moldes do Severino Cavalcanti
Dos muitos que nada fazem e tudo roubam, extorquem e subornam
E dos piores, como Renan Calheiros e demais embusteiros
Que são sem fim...
26/09/07

DARWINIANO

Encontrei o elo perdido
No evolucionismo ao humano
Do mineral ao vegetal e ao animal:
As borboletas são flores
Que apreenderam o voar das cores.
18/10/07

ENCURRALADO

R e f l e t i d o o d i t e l f e R

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a
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o
amor-teu...
ou
a morte’eu...

28/10/2007

EU BEIJA FLOR

Hoje entrou um beija flor
pela minha janela
se assustou comigo
(que não sou flor que se beije)
se debateu contra o vidro
até achar a fresta de saída
e vôo pro azul do infinito...

Eu continuei cá aflito
a procurar
a minha fresta
pra escapar
desta minha cela de vidro...

Aconteceu hoje comigo
não é ficção
hoje entrou um beija flor
pela minha janela
pra fazer sua anunciação...
04/11/07

QUINTAIS QUINTANEIROS

Captar os tantos sapos e grilos
Que povoam os versos do Quintana
Pressupõe uma experiência de vida
Em que de fato tenha havido banhados
Nas vizinhanças da infância do leitor
Já para captar as estrelas e anjos
As nuvens, espelhos e as luas refletidas
Que pairam nas páginas de seus livros
Pressupõe apenas ter havido infância
E ter sobrevivido algo da Lili de cada um
Algo da criança que vivia a poesia
Em seu estado de pureza natural
Sem saber...antes mesmo de ler e escrever.

Quintana pressupõe memórias de quintais baldios na infância.
06/11/07

INDAGAÇÕES VII





Canto I

O FAROL E A TRAVESSIA DO CANAL

O farol de uma doença incurável, feito o câncer

Anuncia experiências em estreitos canais dolorosos

Que nos arrastam e nos debatem em suas margens

Feitas de pontiagudos diagnósticos rochosos

Desde o pacífico oceano da vida saudável

Em que até então velejamos em suaves ondas de calmarias

No rumo certo de um grandioso horizonte ensolarado

Até o agitado oceano do instinto de sobrevivência

Em que se rema contra a correnteza, as ondas e o horizonte

E contra o rumo certo do grande final de tudo o que é mortal

O farol das doenças incuráveis dividem a vida em dois:

A alegre naturalidade do antes

E a angustiante resignação do depois.

Depois da visualização do sinal do farol

Quer seja do Panamá, do Suez ou da Alexandria

Ou mesmo deste mitológico farol do Além

Limite entre o aquém e o nada

Com suas corredeiras incontornáveis para o abismo

Só nos resta a filosófica atitude estóica

De assumirmos com humana altivez o leme

E usufruirmos ao máximo o restante da travessia

Por mais que o canal se estreite (enquanto não se geme)

E por mais que a sua vista fique sombria.

18/09/2007


Canto II

A BESTA E O APOCALIPSE NOW


PSA

DIAGNÓSTICO

GLEASON

ÂNUS

NEOPLASIA

CÂNCER

PRÓSTATA

GRAU

PERCENTAGENS

BIÓPSIA

ONCOLOGIA

RISCO

MALÍGNO

TRATAMENTOS...


24/09/2007


Canto III

DAY AFTER APOCALIPSE

O primeiro dia

Do resto da minha vida

Foi de adequações

Do anúncio oficial

Da sentença fatal

Numa forma racional, sem emoções

E com lágrimas represadas em público

Num cansaço psicológico e púdico

Com o corpo doído de ossos moídos

De suportar pessoalmente a finitude humana

The day after apocalipse

É feito do contágio da notícia da praga

Disseminando uma tristeza comovente

Que de boca em boa entre a minha gente vaga

De forma controlada, gradual e defensiva

Que propicie um recomeçar sem crises depressivas

De modo a vivermos o resto de nossas vidas

Compartilhando a alegria de estarmos juntos

Eu e os meus, com a nossa sorte e azares

Aqui e agora entre amigos, amores e familiares

Ensinando e aprendendo a dizer adeus.

25/09/2007


Canto IV

SECOND LIFE HIPER-REAL

No segundo dia do que restou da minha vida

Com um nó na garganta que se engole e retorna

Apertando o peito com sufocados suspiros

E os olhos com incontroláveis piscações lacrimejantes

A sentença já nem parece tão fatal

Pois talvez nem perpétua a chaga seja

Sendo até possível haver o retorno ao oceano de vida saudável

Pelo mesmo canal de pontiagudos diagnósticos rochosos

Com a detonação certeira do farol sinalizador da neoplasia

No segundo dia do resto de nossas vidas

Passamos a viver uma segunda vida com hiper-realismo

Onde cada detalhe do dia, da paisagem e cada pessoa

Ganha especial significação e transcendental poesia

Pela consciência de que o acaso definirá o real e a fantasia

Após todos os tratamentos e cirurgias em defesa da vida e da salvação

Distinguirá da mera esperança a verdade imposta pelo determinismo

Para só então podermos voltar a esquecer que o destino afundará a nossa canoa

Por já sabermos que não é agora, de câncer, mas depois, de velhice ou não...

Ou não: a correnteza é a incontornável e não perdoa a vida que nela se escoa.

26/09/2007


Canto V

A GUERRA DO TERCEIRO DIA

No terceiro dia dos restantes da gente

Após ter batido com a besta de frente

O monstro de sete cabeças virou um moinho

Um obstáculo a ser removido do caminho

Um alvo de guerra neste quixotesco enfrentamento

Que exige perícia e rapidez nos movimentos

O terceiro dia desta andança de triste figura

Tocou de decidir o local, a data e a postura

E encontrar um escudeiro treinado em resgates fálicos

Para operar como um franco atirador cirúrgico e cefálico

Um especialista que inspire confiança, domínio e tino

Nas mãos de quem, cegamente, vou apostar a sorte do meu destino...

27/09/2007


Canto VI

TIRO SECO MISERICORDIOSO

Ainda vivo naturalmente e saudável

Sem a ajuda de medicamentos contínuos...

Esta é a minha principal matéria prima em fluxo

Na fabricação dos meus atuais poemas

Migrando do formalismo para o fatalismo russo

Na tensa expectativa de um mal possivelmente curável

Ainda vivo o gozo da ejaculação líquida

Na fabricação do meu prazer amável

Mas já ouço longinquamente os seus ecos

Nesta inexorável migração para os gozos de tiros secos

Na erétil expectativa do universo todo conspirar favorável.

13/10/2007


Canto VII

MOINHOS DE VENTO

Com uma bagagem pra viagem rápida

E reservas confirmadas de estadias na pousada

Fui rumo ao ho(spi)tel Moinhos de Vento

Como quem vai ao spa descarregar as energias negativas...

Mas depois do procedimento de radical descarga prostática

Conheci a náusea anestésica do entre o ser e o nada

E retornei feliz por estar em casa, apesar dos culhões roxos

E da sonda com uma sacola de mijo ensangüentado a tiracolo

Consciente de ser um paciente que aguarda o novo ciclo de sua saga...

23/11/07- 27/11/07


Canto VIII

CONVALESCENÇA

Convalescença é hibernar...

É ficar sentado olhando pela janela

O azul monótono do céu sem nuvens

Hipnotizado por horas a fio pela luz do dia

Sem querer se ocupar com atividade alguma

Convalescença é não agir...

É simplesmente viver cada momento

Com todas as energias concentradas no vital

Pois ser um paciente é ter paciência oriental:

Convalescença é o apogeu da respiração.

29/11/07


INDAGAÇÕES VIII





EPÍLOGO ANTI-CARTESIANO

Inspirado em Michel Foucault


Eu não penso os meus pensamentos
Os meus pensamentos é que me pensam:
Algo que chamo de eu pensa em mim, logo existo.



Celso Afonso Lima

INDAGAÇÕES POÉTICAS


INDAGAÇÕES POÉTICAS
Celso Afonso Lima